Emily Dickinson & Cecília Meireles
Apresentação
Propomos uma abordagem comparativa para leitura de poesia, envolvendo Literatura Brasileira e Literatura Americana, áreas de estudo cujo diálogo não é viabilizado pelo currículo do ensino médio da maioria das escolas. Nosso objetivo neste site consiste em analisar a temática da natureza, focalizando as imagens da terra na poesia de Emily Dickinson (1830-1886) e Cecília Meireles (1901-1964). Pretendemos comparar a concepção da natureza na obra dessas autoras: uma historicamente ligada à geração do romantismo americano; a outra, ao modernismo brasileiro. Estudaremos a representação da terra, um dos quatro elementos constituintes do mundo sensível na cosmogonia da antiguidade grega.
Embora Cecília Meireles tenha sido leitora de Emily Dickinson, como prova a tradução do poema “I died for beauty”, não pretendemos sugerir uma influência da poeta americana em sua obra, nem tampouco buscar traços biográficos similares, fatos históricos correlatos, ou movimentos literários afins que possam justificar semelhanças temáticas. Propomos elucidar a representação da natureza na obra das autoras a partir de uma reflexão significativa sobre os motivos vinculados à temática da terra, observando relações fecundas entre “flor e nuvem, / estrela e mar”, como a poeta carioca resume em "Inscrição".
Passo a passo, traçamos essa viagem pelo universo da literatura, em cujo roteiro poético estão os temas abordados pelas duas autoras distantes no tempo e no espaço. Acreditamos que a navegação desse site abra novas possibilidades de leitura a partir de um estudo intertextual da temática das imagens da terra na poesia das autoras.
Considerando-se o papel elucidativo da imagem e do som, e a relação entre as artes, ilustraremos os textos e os poemas selecionados para o site com obras musicais e quadros impressionistas que, como os poemas de Cecília Meireles e de Emily Dickinson, retratam o caráter dinâmico e transitório dos fenômenos. Selecionamos telas de impressionistas franceses e americanos, pois as obras dos modernistas brasileiros, contemporâneos de Cecília Meireles, não revelam a essência de sua poesia. Escolhemos o compositor Claude Debussy, cuja música traduz a pintura de Claude Monet e a poesia de Mallarmé e Verlaine, poetas em que Cecília Meireles colheu influências simbolistas. Além disso, a arte de Debussy, como a de Cecília Meireles, é esotérica e envolta em um “simbolismo nebuloso”; como a de Emily Dickinson, é inovadora, senão revolucionária e “diferente de qualquer outra, anterior” (CARPEAUX, 2004, p. 387).
Ao explorar os recursos desse hipertexto on-line, o leitor estará elaborando um itinerário de leitura único, construindo suas próprias interpretações, buscando elos estilísticos entre as obras ou apenas lendo os poemas de forma linear.
I died for beauty, but was scarce
Adjusted in the tomb, When one who died for truth was lain In an adjoining room. He questioned softly why I failed? "For beauty," I replied. "And I for truth, - the two are one; We brethren are," he said. And so, as kinsmen met a night, We talked between the rooms, Until the moss had reached our lips, And covered up our names. |
Morri pela beleza, e ainda não estava
Meu corpo à tumba acostumado Quando alguém que morreu pela verdade Foi posto do outro lado. Brandamente indagou: "Por quem morreste?" "Pela beleza" disse. "Pois Eu, foi pela verdade. Ambas são o mesmo. Somos irmãos, os dois." E assim, parentes de noite encontrados, Conversamos entre as paredes, Até que o musgo nos chegasse aos lábios Nossos nomes cerrando em suas redes. |
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