sexta-feira, 10 de outubro de 2014

poemas

CriançaCabecinha boa de menino triste, 
de menino triste que sofre sozinho, 
que sozinho sofre, — e resiste, 

Cabecinha boa de menino ausente, 
que de sofrer tanto se fez pensativo, 
e não sabe mais o que sente... 

Cabecinha boa de menino mudo 
que não teve nada, que não pediu nada, 
pelo medo de perder tudo. 

Cabecinha boa de menino santo 
que do alto se inclina sobre a água do mundo 
para mirar seu desencanto. 

Para ver passar numa onda lenta e fria 
a estrela perdida da felicidade 
que soube que não possuiria. 

AtitudeMinha esperança perdeu seu nome... 
Fechei meu sonho, para chamá-la. 
A tristeza transfigurou-me 
como o luar que entra numa sala. 

O último passo do destino 
parará sem forma funesta, 
e a noite oscilará como um dourado sino 
derramando flores de festa. 

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando 
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes. 
E um campo de estrelas irá brotando 
atrás das lembranças ardentes. 

Canção PóstumaFiz uma canção para dar-te; 
porém tu já estavas morrendo. 
A Morte é um poderoso vento. 
E é um suspiro tão tímido, a Arte... 

É um suspiro tímido e breve 
como o da respiração diária. 
Choro de pomba. E a Morte é uma águia 
cujo grito ninguém descreve. 

Vim cantar-te a canção do mundo, 
mas estás de ouvidos fechados 
para os meus lábios inexatos, 
— atento a um canto mais profundo. 

E estou como alguém que chegasse 
ao centro do mar, comparando 
aquele universo de pranto 
com a lágrima da sua face. 

E agora fecho grandes portas 
sobre a canção que chegou tarde. 
E sofro sem saber de que Arte 
se ocupam as pessoas mortas. 

Por isso é tão desesperada 
a pequena, humana cantiga. 
Talvez dure mais do que a vida. 
Mas à Morte não diz mais nada. 

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